terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Televisão x Internet

A Internet em breve substituirá a televisão como principal meio de obter notícias e entretenimento. Isto é fato. A televisão, por sua vez, substituiu o jornal impresso.

Do jornal impresso pra televisão, tivemos mudanças bastante drásticas. A televisão leva informação, cultura e entretenimento a lugares distantes. Auxilia na formação de uma conscientização global, e a rápida disseminação da informação leva a uma maior transparência dos governos no mundo todo. A tevê construiu uma grande e poderosa cultura de massa, incentivando um grande aumento do consumismo. A pessoas passaram a ler menos, sair menos de casa, conviver menos em lugares públicos, a protestar menos, passaram até a conversar e dormir menos. A única coisa que as pessoas passaram a fazer mais é comer e consumir.

O muda da televisão para a Internet?

Pode-se defender que a Internet irá aprofundar o que a tevê começou. A desintermediação que a rede proporciona cria um mercado perfeito. Ao invés de ler um jornal com várias notícias e opiniões diferentes, eu freqüento apenas os sites que me agradem, que partilham a minha opinião. Isso deixaria a sociedade mais individualista e mais segregada. As agencia publicitárias já se utilizam disso para fazer propagandas de produtos direcionados para o seu gosto. Estimulando um consumismo muito mais refinado e eficaz.

Estaria a Internet criando uma sociedade de consumo aperfeiçoada e mais individualista?

Ao invés de cidadãos seriamos agora apenas consumidores?

Eu acredito que não. Por uma coisa muito importante que a web proporcionou. Quem estudou marxismo sabe que o mal do capitalismo é a alienação do operário. O operário produz, mas não tem consciência do que está produzindo. Não é mais como um artesão, que se realiza por ser o legítimo criador do produto final do seu trabalho. Resumindo, o mal do capitalismo era transformar todos em consumidores, nos privando da capacidade de produzir coisas.

Pois a Internet é capaz de subverter essa dinâmica. Agora podemos produzir nossos textos, filmes, músicas, organizar as notícias e nossos sites preferidos. Podemos produzir, criticar, selecionar, organizar e divulgar as informações que desejarmos, da maneira que acharmos melhor. Finalmente retornamos a um tipo de sociedade que nos dá o poder de criar. Isso é uma evolução fantástica.

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sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Ditadores precisam de inimigos

É engraçado o quanto podemos aprender com a história. Uma das coisas que sempre se repetem é essa: ditadores precisam de inimigos, é isso que mais lhes dá poder. A causa da luta pode unir a população. O medo faz as pessoas aceitarem muitas coisas, como a restrição das suas liberdades e a caça as vozes dissonantes. Se você critica, pode ser associado ao inimigo.

Alguns exemplos podem ser citados, dentro do país e nos vizinhos. Nosso regime militar, que sempre lutou contra um inimigo interno, quando se deu conta de que a sua popularidade estava baixando, resolveu explodir uma bomba no Riocentro para culpar a esquerda e, assim, justificar mais repressão. Nossos hermanos argentinos, que nunca foram de muita humildade, quando se encontravam na mesma situação, resolveram desafiar a Inglaterra na disputa pela posse das ilhas Malvinas.

Uma das coisas que mais une um povo e cala dissidências é um inimigo externo. Mesmo não sendo ditador George Bush se usou do artifício da guerra para calar seus críticos e tentar unir a população, o que realmente ocorreu no início da guerra do Iraque. Porém, devido à forte incapacidade que os estadunidenses têm de enxergar o outro, não viram que isso também acontecia do outro lado.

Pode-se invadir um país dizendo que vai levar a democracia, a liberdade, o macdonalds ou a disneylândia, não importa, as pessoas se unirão sob a ameaça de um inimigo externo. A política externa americana conseguiu unir desafetos históricos como sunitas e xiitas em uma causa comum. Por isso a guerra contra o terror só consegue estimular mais o terrorismo. Hoje todos, Taleban, Al Qaeda, o presidente do Irã e o presidente da Venezuela, têm um inimigo comum.

Huguinho se fez popular no mundo desafiando o seu grande inimigo imperialista do norte. Escolheu um inimigo ao mesmo tempo fácil de criticar e bastante poderoso (o que transmite a impressão de coragem). O golpe mal sucedido contra ele, que foi claramente apoiado pelos Estados Unidos, só conseguiu justificar os argumentos para manter Chávez no poder.

Vemos que a imprensa brasileira continua querendo que façamos de Hugo Chávez nosso inimigo. Virar o Brasil contra a Venezuela será a desculpa perfeita pra unir os venezuelanos em torno de um inimigo e manter seu chefe no poder com apoio popular por um tempo maior ainda, com referendo ou não.

Sempre fomos mais pelo diálogo. Mesmo com dez vizinhos (só China e Rússia têm mais), conseguimos consolidar nossas fronteiras de maneira pacífica e estamos há quase 150 anos sem guerras. Se a América do Sul é o continente mais desmilitarizado do mundo, isso deve-se bastante ao nosso tipo de política. Mudar essa postura agora seria um erro muito grande pro Brasil e pro mundo.

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terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O filho de Cássia

Sei que é um acontecimento antigo, mas queria chamar a atenção para um ponto importante que pouco foi falado e que diz muito sobre nossa identidade nacional.

Lembram quando a Cássia Eller morreu? Lembram que ela deixou um filho, o Chicão, e que o pai da Cássia cogitou pedir a guarda do menino? Aqui não houve nenhuma discussão sobre o assunto. Estabeleceu-se como ponto pacífico que o garoto deveria ficar com a parceira dela, a quem ele reconhece como mãe.

Mude o cenário dessa discussão pra outros países: os EUA, só para ilustrar melhor. Lá, o caso dificilmente seria resolvido tão facilmente. Haveria grupos religiosos fazendo passeatas, vigílias, piquetes, protestos, com bandeiras e cartazes apoiando a tradicional família cristã e contra a união homossexual. Do outro lado, ativistas em prol da causa gay, celebridades e pessoas esclarecidas; além de botons, camisas e fitinhas para que você expressasse seu lado na questão. Na tevê, aconteceriam debates intermináveis: uns dizendo que o avô é o verdadeiro parente de sangue, outros que a mãe foi quem criou. Enfim, o país estaria dividido.

Aqui não ocorreu desse modo. Parece que houve um consenso geral que o avô, que nem tinha contato com o menino, não teria porquê pedir a guarda dele. Em nenhum momento discutiu-se se a mãe dele, parceira da Cássia, teria ou não direito sobre a criança. Esse fato, apesar de ter passado despercebido, demonstra uma grande abertura e maturidade da sociedade brasileira.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Urbanismo e democracia

(Ou: Pô, Lúcio, cadê os parques?)

Há algum tempo venho relacionando as cidades com os seus cidadãos. Qual a relação que existe, além do radical, claro, entre cidade e cidadania? Bom, a resposta que achei foi esta: espaços públicos.

Espaços públicos são lugares onde todos os cidadãos podem conviver. Começou com as praças da Grécia, onde, não por acaso, se originou a democracia. Os gregos iam às praças públicas para discutir as questões que interessavam a todos e exercer o poder numa democracia direta.

Agora voltemos ao Brasil. Quero dar o exemplo de dois lugares: Barra da Tijuca no Rio, e Brasília. Os dois estiveram na mídia por ter grupos de jovens que ou espancaram empregadas domésticas ou queimaram mendigos por lazer. O que une esses lugares? Ambos foram projetados pelo arquiteto Lúcio Costa. Foram projetados por ele imaginando grandes áreas residenciais, mas, a meu ver, faltou um elemento essencial: o espaço público.

Não há praças ou parques nesses lugares. Na Barra só há condomínios e shoppings, e em Brasília não é muito diferente. O espaço público é um lugar democrático onde todos os cidadãos têm livre acesso e podem interagir e conviver. Nos condomínios e nos blocos (no caso de Brasília), só entra quem mora lá. As pessoas sem o poder aquisitivo de residir nesses lugares só entram lá como mão-de-obra. São domésticas, jardineiros, seguranças, pedreiros. Essa convivência através de um único tipo de relação, empregado-patrão, num país com a nossa história de servidão, acaba por coisificar os indivíduos. Os jovens acham que as pessoas com renda mais baixa não são como eles, são um pouco mais que coisas que devem servir pra alguma função.

Na Argentina, onde as pessoas têm muito mais participação política do que nós, há um ministério do espaço público, tamanha a preocupação que eles têm sobre o assunto. Acho que deveríamos começar a pensar nisso aqui também. Se, usando a desculpa da violência, deixarmos nossos jovens andarem somente entre shopping e condomínio, estamos fazendo um grande mal à nossa sociedade.

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Salvem a natureza!

Talvez esse seja o pior e mais mentiroso slogan dos ecologistas. A natureza não esta em risco. Não, não vou defender aqui que o aquecimento global não é causado pelos humanos, pelo contrário. Meu ponto é que, para o planeta, esses trezentos anos que estamos poluindo industrialmente não significam nada. Se compararmos a vida do planeta com uma vida humana, trezentos anos seriam mais ou menos um segundo da nossa vida. A Terra já passou por coisas muito piores, como impactos de asteróides, supervulcões, eras do gelo. Extinções em massa ocorrem ciclicamente, são coisas corriqueiras para a natureza.

Esse slogan traz duas visões inocentes embutidas. A primeira é uma visão romântica de que a natureza precisa de ajuda, como uma donzela em perigo. O ambientalista seria o herói que enfrenta o dragão do capitalismo com seus temíveis dentes de moto-serra. A segunda é uma pretensão que o homem sempre teve de achar que os seus atos são maiores do que realmente são. O máximo que podemos conseguir e tornar o meio ambiente hostil para a espécie humana. As baratas, ratos (o resto dos bichos escrotos) e outros seres mais resistentes vão continuar e, quando as coisas se estabilizarem, vão evoluir e se diversificar em outras espécies de novo.

Quem vai mais sentir os efeitos de um aquecimento global, ou da poluição, não é a natureza, somos nós. Temos que entender que não temos que salvar o planeta, temos que salvar a nós mesmos. Os ecologistas devem tomar consciência disso e começaram a ter slogans mais realistas e que se apóiem mais no egoísmo humano como: “Salvem-se!”.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Tempos Modernos

É um exercício dificílimo tentar analisar a própria época. Porém, vivemos num tempo de mudanças tão grandes e tão rápidas que, fazendo uma retrospectiva dentro do nosso próprio período de vida, é possível notar fantásticas diferenças.

Quando eu nasci, a televisão reinava como o grande meio de comunicação. Durante a minha infância, não tínhamos celular, linhas telefônicas eram bens valiosíssimos, ninguém nem imaginava o advento da Internet. Para obter informações, alguns jornais, poucos canais de tv, raramente se achava um revista especializada. Para se comunicar, o telefone fixo (que a linha, como eu disse, era muito cara) e cartas (há, vejam vocês, cartas!). Quem não se comunica, se trumbica, dizia um famoso apresentador da época. É, parece que estávamos todos trumbicados naqueles tempos.

Fazendo esse retrospecto, dá pra ter uma noção do tamanho da revolução que está em curso desde o surgimento da Internet.

Democratização sem precedentes da informação e das comunicações.

De que me vale hoje a Enciclopédia Barsa de capa dura, bela encadernação, diversos volumes, quando, a distância de um clique, tenho a Wikipédia, uma fonte de informações viva que cresce e evolui a cada momento? Caso as informações contidas lá não sejam suficientes ou não forem confiáveis o bastante, gastando cerca de trinta segundos a mais de pesquisa, posso encontrar um página, uma instituição de pesquisa, um artigo e até mesmo um pesquisador do assunto que me interesse. Depois, posso conseguir seu e-mail e tirar minha dúvida sobre o tema com o próprio especialista. Diderot e d´Alembert ficariam bastante empolgados.

Que dizer do jornalismo? Se antes você tinha a opção entre o jornal A e o B, agora estão ao seu alcance jornais e sites de notícias de qualquer país, na língua que você quiser, cobrindo diversos pontos de vista do assunto que você preferir. Há ainda a possibilidade de ir mais direto ao ponto. Quer saber sobre a guerra do Iraque? Visite o blog de um iraquiano, ou de um soldado americano. Mande seu e-mail e pergunte o que quiser, pois agora você pode ter acesso às fontes primárias de informação.

Sobre as mudanças nas relações pessoais e de poder. Manter uma postura de autoridade hierárquica se torna mais difícil hoje, pois pra isso é preciso haver um certo distanciamento pessoal. Pegue qualquer perfil de professor no orkut. Os alunos estão lá. Eles descobrem os interesses do professor, vêem as fotos dele no carnaval passado e podem ler as mensagens da namorada dele. A distância necessária para o antigo modelo de autoridade foi pro espaço.

As celebridades podem ser outro exemplo de mudança nas relações pessoais. Se antes eram estrelas inatingíveis, atualmente são pegas em flagrantes constrangedores e, se você quiser, pode criticá-la diretamente através do blog dela. Ou, ainda, você mesmo pode se tornar uma celebridade. Tire uma boa foto, duble uma música de maneira engraçada, faça um vídeo caseiro criativo, dance de maneira esquisita ou crie um blog interessante. Mesmo que você não conquiste a grande mídia, é bem provável que consiga público e quem sabe até alguns fans.

Talvez essa seja uma das mudanças mais importantes que a Internet proporciona a sociedade. Agora podemos ser vistos pelo que produzimos e criamos e não só pelo que consumimos.

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terça-feira, 27 de novembro de 2007

Organizações Não Governamentais

O papel das ONGs hoje é bastante discutido. Um pensamento que veio junto com do Estado mínimo enxergava essas organizações como um espécie de substituta do Estado. O Estado devia economizar o máximo e as ONGs se articulariam para ocupar o espaço deixado vago. Eu discordo profundamente disso.

As ONGs são privadas. Seus donos não são escolhidos democraticamente. Seus membros não são escolhidos por critérios objetivos de merecimento ou mesmo por critério de capacitação, muitas vezes são apenas voluntários, pessoas com boa vontade. As ONGs possuem objetivos próprios, que muitas vezes não são claros, e não têm a obrigação de prestar contas a ninguém. Podem, ainda, se desorganizar, deixando desamparadas as pessoas que eram atendidas.

Por estes motivos que elenquei: objetivos próprios, pessoas não capacitadas, cargos de decisão não eleitos, falta da obrigação de continuidade com os serviços e falta de fiscalização e prestação de contas; não acredito que as ONGs possam mesmo ocupar um lugar que pertença ao Estado.

Quem tem que prover educação, saúde, segurança, lazer, infra-estrutura é o Estado. Está na constituição e não há como delegar isso há qualquer agente privado que seja.

Isso posto, acredito que as ONGs cumprem papéis importantíssimos hoje em dia. Essas organizações podem pressionar e fiscalizar governos, fiscalizar os meios de comunicação, investigar, dar parecer e informar a população sobre determinado assunto ou situação, podem sugerir reformas e apoiar propostas, podem agir em prol da conscientização da sociedade civil em áreas como consumo consciente, educação ambiental, cidadania, direitos e deveres.

Enfim, as ONGs têm um papel fundamental hoje que é de dar voz à sociedade civil, fiscalizando e pressionando governos e mídia. O Estado por sua vez não pode se abonar das suas obrigações sob a alegação de economizar. O poder nunca é vago, portanto prefiro que ele esteja nas mãos do governo, que podemos eleger, cobrar e fiscalizar, do que nas mão de particulares.

ONGs:

Esta é de inclusão digital. Acredito que eles aceitam doações de computadores usados.

http://www.cdi.org.br/

Incentivos a leitura:

http://www.leiabrasil.org.br/

Ambiental:

http://www.wwf.org.br/

Debate a segurança pública:

http://www.vivario.org.br/

No outro post, citei algumas ongs que auxiliam a fiscalizar o governo. Nesta você pode enviar sua opinião para o congresso:

http://www.politicus.org.br/

Para fiscalizar o orçamento:

http://contasabertas.uol.com.br/

Jornalismo social:

http://www.reporterbrasil.org.br/

Entidade civil que acompanha o desempenho da mídia brasileira:

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/