quarta-feira, 29 de setembro de 2004

Contra a Lei do Ato Médico

Quem não é da área se saúde não deve estar sabendo, mais esta no congresso um projeto de lei, feito por um médico, que procura regulamentar o ato médico. Resumindo ele diz que apenas a classe médica estaria apta a fazer qualquer procedimento diagnóstico e indicação terapêutica, e que nenhum profissional da área de saúde pode atuar em alguém sem que essa pessoa tenha sido encaminhada antes a um médico. Quer dizer, todas as outras profissões: biologia, biomedicina, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, nutrição, odontologia, psicologia, serviço social e técnicos em radiologia, estariam dependentes do médico para diagnosticar ou tratar qualquer pessoa.
Não posso falar das outras profissões, mais vou puxar a sardinha pro lado da minha. Eu gostaria que a fisioterapia fosse reconhecida pelo o que eu acredito que ela é: nada mais que uma medicina física. A medicina tradicional usa a química e nos usamos a física. É simples assim. Na faculdade temos as mesmas matérias que um estudante de medicina tem: fisiologia, patologia, farmacologia, tudo igual, usamos os mesmos livros que eles e tudo. Depois eles tem mais hora de clinica e residência (o que eu acho que deveríamos ter também, mais isso é outra historia).
Há um problema na medicina que é comum a quase todos as ciências: a linguagem técnica. O profissional adquire todo um vocabulário técnico para dizer coisas que todos nos compreendemos e sabemos. Há grande maioria dos pacientes que pego na fisioterapia são diagnosticado por médicos assim: Dorsalgia, cervicalgia, cervicobraquialgia, etc... Que em português claro se traduz por: Dor nas costas, dor no pescoço, dor no pescoço e no braço, etc... Eu lhes pergunto: O que é que eles diagnosticaram?
O problema é que com a multidisciplinaridade dos tratamentos e o surgimentos das chamadas terapias alternativas, a medicina tradicional vem perdendo a sua supremacia. E isso é muito bom, essa antigas profissões de prestigio (nada dava mais orgulho a um pai do que ver seu filho dotô, formado em medicina ou direito) tão bonitas na sua origem e nos seus ideais, assim como um dia foi até a carreira política, vem perdendo seu encanto. Por exemplo, num país com milhões de necessitados e carentes no Brasil, a especialidade médica mais procurada não é a epidemologia ou a medicina social, mais sim a cirurgia plástica. O medico mais famoso não é mais Oswaldo Cruz, é o Ivo Pitangy.
Quem comanda as pesquisas na medicina hoje são as industrias farmacêuticas, uma das maiores industrias do mundo. Um médico que atendi veio me contar que estava fazendo mestrado, e que seu projeto procurava testar a eficácia de certo remédio, ele estava muito feliz por que a industria fabricante do medicamento bancava qualquer coisa pra ele, congressos, viagens, restaurantes e hotéis caros. Mais de 50% do custo de produção e pesquisa de um novo medicamento vai para a propaganda dele. Quando entrar em um consultorio a partir de agora, preste atenção na quantidade de amostrar grátis, canetas, bloquinhos e até modelos anatômicos com a marca do mais moderno antinflamatorio, ou do antidepressivo da moda.
Me orgulho de ser fisioterapeuta, e nunca quis ser médico. Tenho muito apreço pela medicina, e, salvo algumas criticas como as acima, admiro muito a profissão, mas sempre é bom lembrar que as profissões, principalmente as envolvidas com a saúde, devem tentar cada vez mais agir em cooperação ao em vez de competição, e que bons e maus profissionais sempre vão existir independente da sua área de atuação.
Mais informações e noticiais sobre a lei do ato medico em: www.naoaoatomedico.com.br