sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Ditadores precisam de inimigos

É engraçado o quanto podemos aprender com a história. Uma das coisas que sempre se repetem é essa: ditadores precisam de inimigos, é isso que mais lhes dá poder. A causa da luta pode unir a população. O medo faz as pessoas aceitarem muitas coisas, como a restrição das suas liberdades e a caça as vozes dissonantes. Se você critica, pode ser associado ao inimigo.

Alguns exemplos podem ser citados, dentro do país e nos vizinhos. Nosso regime militar, que sempre lutou contra um inimigo interno, quando se deu conta de que a sua popularidade estava baixando, resolveu explodir uma bomba no Riocentro para culpar a esquerda e, assim, justificar mais repressão. Nossos hermanos argentinos, que nunca foram de muita humildade, quando se encontravam na mesma situação, resolveram desafiar a Inglaterra na disputa pela posse das ilhas Malvinas.

Uma das coisas que mais une um povo e cala dissidências é um inimigo externo. Mesmo não sendo ditador George Bush se usou do artifício da guerra para calar seus críticos e tentar unir a população, o que realmente ocorreu no início da guerra do Iraque. Porém, devido à forte incapacidade que os estadunidenses têm de enxergar o outro, não viram que isso também acontecia do outro lado.

Pode-se invadir um país dizendo que vai levar a democracia, a liberdade, o macdonalds ou a disneylândia, não importa, as pessoas se unirão sob a ameaça de um inimigo externo. A política externa americana conseguiu unir desafetos históricos como sunitas e xiitas em uma causa comum. Por isso a guerra contra o terror só consegue estimular mais o terrorismo. Hoje todos, Taleban, Al Qaeda, o presidente do Irã e o presidente da Venezuela, têm um inimigo comum.

Huguinho se fez popular no mundo desafiando o seu grande inimigo imperialista do norte. Escolheu um inimigo ao mesmo tempo fácil de criticar e bastante poderoso (o que transmite a impressão de coragem). O golpe mal sucedido contra ele, que foi claramente apoiado pelos Estados Unidos, só conseguiu justificar os argumentos para manter Chávez no poder.

Vemos que a imprensa brasileira continua querendo que façamos de Hugo Chávez nosso inimigo. Virar o Brasil contra a Venezuela será a desculpa perfeita pra unir os venezuelanos em torno de um inimigo e manter seu chefe no poder com apoio popular por um tempo maior ainda, com referendo ou não.

Sempre fomos mais pelo diálogo. Mesmo com dez vizinhos (só China e Rússia têm mais), conseguimos consolidar nossas fronteiras de maneira pacífica e estamos há quase 150 anos sem guerras. Se a América do Sul é o continente mais desmilitarizado do mundo, isso deve-se bastante ao nosso tipo de política. Mudar essa postura agora seria um erro muito grande pro Brasil e pro mundo.

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