quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Ciência e religião

Hoje o pensamento corrente é que a ciência moderna e o discurso cientifico surgiram em reação ao grande poder que a religião adquiriu no final da idade média. Porém peço agora que parem e reflitam nas semelhanças que existem hoje entre elas.
Ambas, ciência e religião, tem por fim explicar o mundo para o homem. Temos um profundo medo do desconhecido e por isso o mundo nos assusta. Por exemplo, quando há um trovão e não sei o que significa fico assustado, porem me alivia tanto pensar que são os deuses discutindo, quanto pensar que são nuvens se chocando com cargas positivas e negativas e tal.
A ciência surge como crítica ao dogmatismo religioso, onde a verdade é revelada por deus e nos é passada através do clérigo, nada mais que um elemento neutro, que só nos comunica essa verdade inquestionável. Hoje em dia teremos uma dificuldade maior em questionar a verdade cientifica, revelada pela pesquisa cientifica (esta entidade impessoal e inquestionável que paira acima de nos) que é transmitida pelo cientista, esta figura sempre neutra e imparcial que tem apenas a função de nos trazer as novas verdades.
Onde as sociedades religiosas se preocupam em saber o que é pecado ou não, qual a punição deste pecado, e como a sociedade encara o pecador; hoje estamos sempre atentos a ouvir o que os homens da ciência nos trazem nas ultimas pesquisas (revelações superiores) sobre os comportamentos que serão benéficos e os comportamentos que trarão malefício à saúde. Quem se atreva hoje em dia a ser gordo ou sedentário, ganhara o mesmo desprezo da sociedade que em outrora mereciam os pecadores.
No que se refere a sacerdotes e cientistas, também podemos achar diversas semelhanças interessantes. Os dois tem roupas especiais (o jaleco e a batina) que os separam dos homens comuns e os revestem de sabedoria e/ou sacralidade (poder). Quem seria capaz de negar os sentimentos de respeito e dominação quase instintivos despertados pela visão desses trajes? Certamente, segundo o senso comum, trata-se de pessoas fora de comum, que devotaram suas vidas a tarefas sacramentadas como estudos e preces, sendo obrigadas a diversos sacrifícios por conta desta dedicação. Tais pessoas trilham um caminho considerado árduo e solitário, e desse modo são muito respeitadas.
A língua também é um fator de poder importante. No final da idade média, quando a igreja se encontrava no ápice de seu poder, os sacerdotes utilizavam uma língua morta – o latim – em todos os seus procedimentos. Sem poder entender a língua ficava muito mais difícil para o homem comum questionar ou criticar qualquer coisa. Este foi um dos motivos que levou Lutero a se separar de Roma. Atualmente, o latim ainda é considerado uma língua morta; no entanto, ele pode ser facilmente encontrado em qualquer obra científica, através de seu vocabulário técnico que nos nunca entendemos.
E ai, você é uma pessoa religiosa?