segunda-feira, 29 de novembro de 2004

Bora batê tambô

Nunca fui batizado por que meus pai decidiram que eu deveria escolher sozinho que religião seguir. Por isso sempre tive curiosidade a respeito das religiões. Pelo que descobri elas servem principalmente a dois propósitos: Ajudar o homem a entender o mundo (papel esse que a ciência assumiu atualmente) e ajudar o homem a agir no mundo. Essa segunda parte é que é o problema, quando a religião tenta ajudar o homem a agir no mundo, surge a moral religiosa. Essa moral sempre vai estar impregnada de valores culturais que muitas vezes não se aplicam mais. Ditam regras que não tem mais sentido de existir, mas que devem ser seguidas sem nos perguntar o porque delas.
Vinha pensando isso quando me dei conta que existem algumas poucas religiões onde não há regras de conduta definida, onde você tem a liberdade de escolher seu caminho e se responsabilizar por ele. São estas as religiões africanas, que aqui no Brasil são representadas principalmente pelo Candomblé e pela Umbanda.
Os deuses das grandes religiões monoteístas mundiais, catolicismo, judaísmo e islamismo, são deuses que representam apenas o lado bom e puro do ser humano e reprimem todo o resto dizendo que é pecado, que é do mundo inferior ou que é de satã. E o velho Freud já dizia que reprimir muito as coisas acaba sempre num dando certo...
Os diversos deuses africanos tem qualidades e defeitos como qualquer um de nos, afinal não é pra eles serem nossa imagem e semelhança? Eles tem um lado negro assim como nos e não procuram negar ou esconder isso. Eles não são deuses inalcançáveis nos julgando lá de cima. Não, eles são energias em estado puro, que descem a terra e são representados através dos corpos de filhos, que dançam aos sons característicos de seus tambores e atabaques.
Por não haver uma moral rígida, também fica muito difícil haver o fundamentalismo religioso, que é o maior perigo atual. Como vemos hoje em dia na guerra do fundamentalismo americano contra o resto do mundo.
O corpo nas religiões monoteístas é algo sujo e digno de vergonha, deve ser escondido. Assim como o ser humano foi dividido entre o bem e o mal, foi dividido também entre carne e espírito, ficando a primeira como a representação do mal, merecendo nada mais que repressão e mortificação para que o espírito se fortalecesse. Enquanto isso o culto religioso e o corpo se misturam e são celebrados nas danças dos Orixás.
As religiões africanas sobreviveram e se adaptaram aqui, fazendo parte viva da nossa cultura hoje brasileira. Porém é preciso que se o devido valor a elas, cada vez mais os novos cultos protestantes endemonizam estas religiões pelo fato delas serem concorrentes pelos mesmos clien... ops fieis.

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quarta-feira, 17 de novembro de 2004

O dia em que quase parti dessa pra melhor

Lá pelos meus 14 anos eu tinha uma prancha de body board pra pegar algumas ondinhas. Num certo verão eu e meus amigos íamos todo dia a praia, estando o tempo bom ou não. Neste dia tinha amanhecido nublado pós temporal, o mar estava de ressaca com ondas absurdamente enormes. Como éramos todos novos e sem noção do perigo, entramos. O mar parecia que não queria a gente ali de jeito nenhum. Ficamos lutando feito loucos para passar a arrebentação. Num raro momento de calmaria remei feito louco e ultrapassei as ondas. Quando vi estava sozinho e o mar estava calmo. Meus amigos a muito haviam desistido de entrar, e da onde eu tava mal dava pra enxergar a praia. Estava atrás de onde as ondas surgem e como bom adolescente só agora tinha parado pra pensar algum jeito de sair dali. As ondas estavam realmente amedrontadoras. Quando tentava subir em cima delas, olhava o mar lááááá em baixo, e desistia. De tão altas, assim que elas passavam deixavam uma chuva de respingos pra trás. Quando saia da onda e caia de novo no mar o frio do meu estomago me perguntava como é que tinha me metido naquela. Não tinha outro jeito a única saída de volta pra praia era enfrentar um monstro desse, tentaria pegá-la, no máximo iria carregado pela espuma até a areia. Fui remando mais pra praia até chegar mais perto das ondas. O mar subia, subia, subia e depois descia violentamente. Na outra vez que subi com o mar, embiquei minha pranchinha pra baixo e despenquei de qualquer jeito com muitos litros de água quebrando em cima de mim. A força da onda arrebentou meu estrepe novinho como se fosse um barbantinho, e na hora nem deu pra notar. Estava a vários metros da costa, mesmo assim depois de um periodo em que parecia que tinham me botado numa maquina de lavar, fui jogado no fundo do mar. Meu corpo estava completamente relaxado lá em baixo e não tenho idéia de quanto tempo se passou, mas tudo parecia em câmera lenta. Lá encontrei uma negra forte de seios largos, com o cabelo todo enfeitado de belas conchas: “Vai dormir aqui hoje meu filho? Pode se deitar no meu colo se quiser.” “Vô não minha mãinha, rainha do mar, tenho muito que fazer lá em cima ainda” Ela sorriu compreensiva e eu tomei impulso no chão pra tentar voltar a superfície. Quando finalmente chegue na areia, meus amigos todos mais todas as poucas pessoas que estavam na praia estavam com os olhos arregalados me olhando como se tivesse voltado do mundo dos mortos.

terça-feira, 16 de novembro de 2004

Carta ao feijão

Meu filho/a, neste momento você ainda se encontra no meio das tripas de sua mãe e tem o tamanho de um feijãozinho, por isso seu apelido carinhoso no momento: feijão.
Querido feijão, saiba que foi com muita surpresa e felicidade que a noticia de sua chegada ao mundo foi recebida por todos.
Eu e sua mãe ainda não sabemos nada sobre você, e não sabemos nem nada sobre como seremos no papel de pais, mas desde o primeiro momento já te amamos. Estamos ansiosos pra saber que surpresas, desafios e lições você ira nos oferecer. Só a noticia da sua vinda já causou um furacão nas nossas vidas e nas daqueles que nos cercam. Não daqueles furacões que chegam e destroem tudo, mas daqueles furacões que dão uma sacudida na gente, nos fazem enxergar tudo diferente, pensar mais no futuro, e ficar mais perto das pessoas queridas pra nos apoiarmos.
Não sei se vou te entregar o mundo como eu o encontrei. Pra falar a verdade acho que ele agora tem mais problemas do que quando eu cheguei, mas também acho que agora temos muito mais possibilidades de encontrar juntos caminhos melhores. O mundo que estamos te presenteando esta desafiador, cheio de pendências a resolver, cheio de contas a pagar, mais com algum jeitinho acho que tudo isso pode ser negociado.
Espero que goste da vida que estamos lhe dando também, pelo budismo você já deve ter tido algumas outras pra comparar. De acordo com a sua vó, a gente que escolhe ainda lá em cima, como alminha, os pais e a família onde vai nascer.
Se isso é verdade pelo menos já sabemos que você tem bom gosto.